quinta-feira, 14 de maio de 2015

Engolida pela escuridão.

     Ontem, assim que cheguei à faculdade, lembrei-me de um parquinho de diversão existente lá, onde as crianças do jardim de infância ficam durante o dia em suas respectivas horas recreativas.
     Fui até lá.
     Avistei o que parecia ser um banco de praça em frente aos balanços cujos assentos foram feitos de pneus de carro, provavelmente para dar mais alegria e criatividade ao lugar que, naquele momento, encontrava-se parcialmente escuro, com apenas uma única alma vazia e desolada vagando por ele: Eu.
Então sentei em um dos bancos. Fiquei o que me pareceram dezenas de minutos avistando o parque até que enfim a primeira gota salgada saísse de um dos meus olhos. Não demorou muito para que eu sentisse meu rosto praticamente todo molhado, enquanto eu derramava o que pareciam lágrimas sentimentais junto com o peso da minha fútil ou (daquilo que gosto de chamar) ainda-não-descoberta existência.
     Naquele momento eu já não existia mais. Para falar a verdade, eu nem ao menos queria existir naquele momento, sob aquele céu estrelado, junto com todos aqueles insetos voando ou rastejando ao meu redor, que mesmo que eu não os pudesse ver, sentia a presença deles ali.
     Então chorei. Chorei como uma criança que berra por falta de algo que nem mesmo ela sabe o que é. Chorei como um adolescente quando sente que algo falta em seu mundo, porém também não sabe o que é. Chorei como um adulto quando finalmente compreende que a vida não é apenas ter um ótimo emprego, um cachorro e uma família da qual nem mesmo ele planejou ou sequer algum dia desejou. Chorei como um ser humano cuja idade se encontra muitos anos na frente de um adolescente e percebe que seu tempo está se esgotando e sua vida não fez nem nunca fará parte daquelas que realmente viveram. Chorei sob um céu estrelado onde galhos de árvores tampavam de uma forma esplêndida quase toda a minha visão daquele pequeno mundo. Chorei como quem gostaria de ser compreendido por alguém quando nem ao menos consegue compreender a si mesmo. Chorei pelo o que pareceram centenas ou até mesmo milhares de horas até que finalmente o sinal de entrada tocou, quarenta minutos após minha chegada naquele parque, trinta minutos após muitas lágrimas derramadas - que por algum motivo inexplicável eu senti que ainda tinham muito mais de onde as mesmas vieram - quinze minutos após eu me dar conta de que ainda olhava para dentro de mim e procurava por uma razão para continuar vivendo - mesmo sabendo que infelizmente não encontraria resposta alguma, e por fim, dez minutos após eu olhar para cima e avistar toda aquela imensidão azul escura e me sentir o ser mais minúsculo e solitário da face da Terra.
     Enxuguei as lágrimas e saí.
     Cheguei à sala de aula e eu já não era mais a mesma pessoa.
     Algo havia ficado para trás.