segunda-feira, 15 de março de 2021

Traumas

Eu escrevo enquanto sofro
Amo enquanto morro
Todo dia mais um pouco
Uma vítima de mim mesma
Ou o mesmo monstro que insisto em alimentar?

Resisto entre gritos infantis aturdidos
Socos e gemidos
Abafo o desejo adulto
Com pesadelos demasiado brutos
Que não me permitem sonhar

Me aqueço com a raiva enquanto me permito ficar e viver
Experiencio diariamente o que não consigo esquecer
Frieza dos que me tocaram
Certeira desde os primórdios de uma vida que tanto sucumbe o entardecer
Sublime toque de recolher
Inocência perdida
Toques em partes que eu, tão jovem, não deveria sentir tocar

Por que não me permitiram ser quem eu naturalmente poderia me tornar?

E hoje ainda percebo os trovejos que chegam
Na tentativa de inibir os tormentos
Feridas que aparentemente jamais conseguirei curar
Alimento os traumas com esses gritos mudos?
O pessoal é político, cego e surdo
Seria alimento para eles
O silêncio que não me permite gritar?

Eu soco as paredes sujas
Arranho a pele pálida, nua e crua
Que há quatorze anos tudo o que faz é sangrar

Uma verdadeira sobrevivente de um passado tão presente
Eu me agarro às boas lembranças
Não permito que se enfraqueça meu despertar
E tudo o que faço é me manter na torcida
Pela minha própria vida
Tudo o que faço é resistir e lutar.

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