Tudo o que o tempo faz é passar
E como o outono corriqueiro que precede invernos demasiado eternos em mim, tudo o que faço é recordar
Imagino o futuro distante do lado de lá, verões que eu jamais poderia aguentar, guerras que não venci em um passado tao presente quanto o presente aqui se faz
Por vezes me visualizei num bem estar adormecido, eu fujo de mim e de todos quando percebo-os como contrários amigos
Me escondo e me esqueço em uma gaveta suja e vazia de uma cômoda em um cômodo qualquer
Lembranças amargas de um corpo que penumbra o entardecer
Fizeram-se constantes, por aproximadamente três anos, as tentativas malsucedidas de te esquecer
Eu fujo madrugada afora, e te encontro em todo adormecer, para que sombras tão desiguais não resmunguem ao meu corpo que tanto vacila pra se perder, imagens imaginadas e três vezes já realizadas
Enquanto o mundo aqui dentro oscilava, externo de mim éramos apenas eu e você
Me ergo aos poucos, prometo, erros e acertos me trouxeram outra vez a estes sentimentos, esguias e certeiras promessas tais
Esse corpo vagueia, reprime desejos felizes que poderiam cercá-lo, demasiado envolto já se encontra em ais
Eu me permito ao grito interno, nesse corpo perceptivelmente enfermo, que não mais repousará inquieto, até que eu o tenha outra vez
Por vezes tempestade, outrora calmaria intensa
Tudo o que o tempo faz é ruir em silêncio, na mazela delicada e imensa, e apropria-se do tempestuoso momento
Se abre em trovoadas esperançosas que hão de se fundir apenas quando estas lembranças infames se ausentarem por indeterminado tempo
Nesta casa que urde o medo, tão marcada pelo tormento, no tempo que se move lento quando escrevo sobre ele em segredo
Unem-se internas chamas entre dois corpos que poderiam juntos queimar, o choro agudo de uma morte prematura que, com ele, não avisto chegar
Em decadência tenebrosa, a infelicidade póstuma não há de se ausentar, mas nas águas dele repouso e me afogo, há nele um abismo de cores vibrantes que idealizo pular
E tudo o que o tempo faz é passar, e meu corpo queima pela presença imaginável dele, ele insiste em queimar, lástimas em palavras que ambos amamos recitar
Seria ele? Anseio demasiadamente que seja, me vejo presa e dispersa em seus braços ternos, desejo que seja eterno enquanto tiver que durar
Posso eu ser seu instrumento se ele assim o desejar, em meu corpo suas digitais de amor e arte
Sinônimos de nós são músicas, composições e poemas por toda parte
Será? Será? Que poderemos compôr juntos juras de amor em partituras melancólicas que riem mares de lágrimas doces e embarcam no mais gostoso abraçar?
E eu desejo tanto que ele me deseje, que veja e contemple a escuridão estável que em mim existe e insista em dizer que ela é incrível, mesmo diante do nublado presente, e prometa promessas urgentes de quem ousará ficar.
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