sábado, 31 de dezembro de 2016

Dor, amor e outras drogas.

Eu costumava pensar que merecia a dor e relacionamentos abusivos. Eu costumava pensar que a dor era necessária e ser uma pessoa fria bastava para não me machucar mais do que eu já estava machucada. Ou talvez eu amasse tanto a dor a ponto de querer permanecer com ela. Pertencer a ela. Não vou mentir, sempre a considerei uma companhia calorosa demais para manter perto dessa temperatura negativa na qual eu me encontrava. Eu não percebia, só sentia, algo estava errado naquela bagunça que eu tanto amava, que tanto me envolvia em seu abraço acolhedor e aconchegante. Aquele caos que eu tanto idolatrava. Aquela frieza tão romantizada. O preto e branco fazia sentido, mas não me era o suficiente, eu não era o suficiente, a realidade pouco ensolarada e ainda muito chuvosa não era o suficiente pra essa vida, esse corpo, essa alma que apenas busca por prazer. Eu afastava as pessoas e me afastava da felicidade porque estar acompanhada de alguém era positivo demais para que eu continuasse vivendo, era doloroso demais sentir prazer em algo que não machucava e não me destruía por completo. Era um peso cego que eu insistia em carregar. Um fardo que eu buscava encontrar em todo lugar. Em todos os bares, em todas as brigas, em todas as quedas, tropeços e tapas na cara que eu levava.
Eu costumava pensar que merecia e precisava sentir essa sensação dolorosa que era mais minha do que eu era dela. Mas eu não precisava, ninguém precisa. A dor é necessária, quando dura pouco, dois dias ou duas semanas, mas é preciso procurar saber como se desvencilhar desses caminhos tortuosos que nos levam à um péssimo estado de saúde mental, é necessário lutar contra pensamentos negativos que nos puxam para baixo e nos fazem acreditar que somos merecedores daquilo. Não somos. Não sou. Nunca fui. Eu mereço amor e carinho, demonstrações de afeto e saber o quanto precisam de mim, porque preciso de todos que agora estão e estiveram ao meu lado também. Eu os amo e é recíproco. Reciprocidade é necessária. Cuidar da minha saúde mental é necessária, passar por lutos é necessário, saber como enfrentá-los também, se livrar de pessoas que amamos, mas não contribuem para a nossa sanidade mental é necessário. Amar quem nos ama é necessário, amar a nós mesmos, mais ainda. Auto cuidado. Auto apreciação. Amor próprio. Felicidade. Sonhos. Amizades verdadeiras. Isso é digno de atenção. A dor duradoura não. Esses passos de pássaro com peso de um elefante que tanto me desgastavam e distorciam minha visão, minha imagem do que a realidade realmente era, fazendo com que eu me detestasse tanto a ponto de acreditar que eu merecia aquilo. Eu não mereço. Não merecemos. Eu sou paz e um dia colorido com um arco Iris no céu após uma longa tempestade. Eu sou passos pesados e confiantes, sonhos que hão de se realizar. Eu sou a vida após tanto tempo em morte. Sou o voo após tanto tempo em queda. Eu sou abraços e cafunés num dia nublado e abafado em uma casa no meio da natureza. Eu sou a melodia perfeita que mesmo sem ser tocada, reconhecem meu valor. Eu reconheço meu valor e o quanto sou digna de todo amor que há nesse mundo. Eu valho a pena. 
E você, já se amou hoje? Repita comigo: Eu valho a pena.

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