terça-feira, 25 de julho de 2017

Inferno.

Recordo-me do lúgubre momento ao acordar sozinha no quarto naquela manhã abafada de vinte e quatro de julho num clima quase-pós-inverno que se impregnava em boa parte do oeste do paraná. Logo aos primeiros momentos acordada consegui terrível e facilmente ponderar sobre a minha tão nefasta existência, a presença daquilo que me surrupiava os poucos momentos alegres trazidos pelo inverno e o não-precisar-sair-de-casa-obrigatoriamente-por-estar-de-férias-da-faculdade, e da sensação de morte iminente, cobrindo-me de pavor nesses últimos onze anos. Sentia-me morrer aos poucos pela asfixia prematura tão presente dessa vida que não me era cabível aos quase 21 anos. Era uma falta de ar rotineira, levava-me ao ápice da amargura nessas mesmas circunstâncias do dia – logo nas primeiras piscadas, acarretando comportamentos um tanto expressivos de aniquilamento e total ruína que padeciam meu espírito cuja vontade de sair da cama e fazer algo produtivo era pouquíssima; momentos estes mortíferos e tão vívidos que sequer a vida em si podia creditá-los, como se a minha pessoa fosse a própria morte. A quase ausência de vida deixava-me impaciente, desejando que a completude daquela sensação se concretizasse sem demora. Deitava tarde da madrugada, acordando mais tarde do que deveria, dormindo por quase 9 horas ou mais. Meu desejo era mesmo não acordar, mas já que o havia feito, algo que acredito ter sido meu instinto humano de sobrevivência impulsionou-me a enfrentar o pouco de vida que me restara. Com deveras arduidade, levantei. Sentei-me na cadeira do computador ao lado da minha cama e antes mesmo de ligar o computador, desabei. Olhando pela janela do meu quarto que ainda se encontrava fechada enquanto o sol ali batia, pude apenas sentir quinhões de turbilhões jogando minha cabeça de um lado para outro. Fui do inferno ao céu, voltando para os confins ardentes em que já estava habituada em menos de 40 segundos, antes de todas aquelas lágrimas começarem a percorrer pelo meu rosto afora. Eu estava sozinha nessa – pensei. Estava mesmo, não havia como negar tal fato. Devastada. Atribulada pelo futuro de cada novo minuto que chegava, tornando-se presente e rapidamente passado, mantendo-me presa a uma terrível vontade de aquietar-me, suspender-me desta vida desgostosa, livrando-me assim das vozes violentas que se faziam presentes em constantes gritos dentro da minha cabeça logo nos primeiros treze minutos do meu dia que, como uma dor de cabeça chegando de surpresa e me invadindo por completo, trouxe consigo uma súbita tremedeira que se instalou dos pés à minha cabeça que naquele momento tanto pesava. O choro havia cessado ou eu não mais o sentia por conta da febril excitação que se exaltava por ter tomado conta do meu corpo todo? Crescente e latente – a dor. Voltei à cama desejando permanecer ali pelo resto do dia, do mês que em sete dias estaria terminando, ou quem sabe, pelos próximos cinco anos. Contrariando meus desejos, em menos de quinze minutos deitada voltei para o computador, trazendo à tona este escrito. Ao que tudo indica, percebendo apenas agora, meu instinto de tentar fazer com que as coisas funcionem, mesmo que de uma maneira inacabada e infrutífera, é ainda maior do que acreditava ser. Os olhos emaranhados, o rosto ainda inerte nos momentos que acabavam de ficar pra trás, trazendo-me a inspiração para este texto, o corpo desprovido de quaisquer sensações motivadoras das quais eu não podia fugir, apenas tentar escrever sobre. A vida não foi feita pra mim, ou eu não fui preparada para ela? Martirizo-me em silêncio por entre soluços abafados enquanto escrevo estas linhas, sobre estes monstros que comem da minha carne ainda viva e do mal que me aflige a cabeça. Sequer um texto como este seria capaz de demonstrar o terror que agora enfrento. O surto é interior, e a dor é deveras forte e real.

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