Recordo-me do lúgubre momento ao
acordar sozinha no quarto naquela manhã abafada de vinte e quatro de julho num
clima quase-pós-inverno que se impregnava em boa parte do oeste do paraná. Logo
aos primeiros momentos acordada consegui terrível e facilmente ponderar sobre a
minha tão nefasta existência, a presença daquilo que me surrupiava os poucos
momentos alegres trazidos pelo inverno e o não-precisar-sair-de-casa-obrigatoriamente-por-estar-de-férias-da-faculdade,
e da sensação de morte iminente, cobrindo-me de pavor nesses últimos onze anos. Sentia-me morrer aos poucos pela asfixia prematura tão presente dessa vida que
não me era cabível aos quase 21 anos. Era uma falta de ar rotineira,
levava-me ao ápice da amargura nessas mesmas circunstâncias do dia – logo nas
primeiras piscadas, acarretando comportamentos um tanto expressivos de
aniquilamento e total ruína que padeciam meu espírito cuja vontade de sair da
cama e fazer algo produtivo era pouquíssima; momentos estes mortíferos e tão vívidos
que sequer a vida em si podia creditá-los, como se a minha pessoa fosse a
própria morte. A quase ausência de vida deixava-me impaciente, desejando que a completude
daquela sensação se concretizasse sem demora. Deitava tarde da madrugada, acordando
mais tarde do que deveria, dormindo por quase 9 horas ou mais. Meu desejo era
mesmo não acordar, mas já que o havia feito, algo que acredito ter sido meu
instinto humano de sobrevivência impulsionou-me a enfrentar o pouco de vida que
me restara. Com deveras arduidade, levantei. Sentei-me na cadeira do computador
ao lado da minha cama e antes mesmo de ligar o computador, desabei. Olhando
pela janela do meu quarto que ainda se encontrava fechada enquanto o sol ali
batia, pude apenas sentir quinhões de turbilhões jogando minha cabeça de um
lado para outro. Fui do inferno ao céu, voltando para os confins ardentes em
que já estava habituada em menos de 40 segundos, antes de todas aquelas
lágrimas começarem a percorrer pelo meu rosto afora. Eu estava sozinha nessa –
pensei. Estava mesmo, não havia como negar tal fato. Devastada. Atribulada
pelo futuro de cada novo minuto que chegava, tornando-se presente e rapidamente passado,
mantendo-me presa a uma terrível vontade de aquietar-me, suspender-me desta
vida desgostosa, livrando-me assim das vozes violentas que se faziam presentes
em constantes gritos dentro da minha cabeça logo nos primeiros treze minutos do
meu dia que, como uma dor de cabeça chegando de surpresa e me invadindo por
completo, trouxe consigo uma súbita tremedeira que se instalou dos pés à minha cabeça
que naquele momento tanto pesava. O choro havia cessado ou eu não mais o sentia
por conta da febril excitação que se exaltava por ter tomado conta do meu corpo
todo? Crescente e latente – a dor. Voltei à cama desejando permanecer ali pelo
resto do dia, do mês que em sete dias estaria terminando, ou quem sabe, pelos
próximos cinco anos. Contrariando meus desejos, em menos de quinze minutos
deitada voltei para o computador, trazendo à tona este escrito. Ao que tudo
indica, percebendo apenas agora, meu instinto de tentar fazer com que as coisas
funcionem, mesmo que de uma maneira inacabada e infrutífera, é ainda maior do
que acreditava ser. Os olhos emaranhados, o rosto ainda inerte nos momentos que
acabavam de ficar pra trás, trazendo-me a inspiração para este texto, o corpo
desprovido de quaisquer sensações motivadoras das quais eu não podia fugir,
apenas tentar escrever sobre. A vida não foi feita pra mim, ou eu não fui preparada para ela?
Martirizo-me em silêncio por entre soluços abafados enquanto escrevo estas
linhas, sobre estes monstros que comem da minha carne ainda viva e do mal que
me aflige a cabeça. Sequer um texto como este seria capaz de demonstrar o
terror que agora enfrento. O surto é interior, e a dor é deveras forte e real.
terça-feira, 25 de julho de 2017
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